Pão indiano: llao llao ou cyttariaa harioti

Falar de Cyttaria, Pan de indio ou llao-llao em Espanha soa estranho. Mas se o fizermos no hemisfério sul, no Chile e na Argentina, saberão imediatamente que estamos a falar de um cogumelo comestível.
Para descrever esta espécie em La Casa de las Setas contamos com a colaboração de Gonzalo Romano, Doutor em Ciências Biológicas especializado em fungos. Ele fundou a Fundação Hongos de Argentina, que atualmente preside, e também possui uma empresa de produção de cogumelos chamada “Almazul Hongos Comestibles”.

Pão de Índio ou Llaollao

Dentro da grande diversidade de cogumelos que são muito conhecidos, hoje falaremos sobre alguns que têm algumas particularidades: hoje falaremos sobre os Cyttaria.

Trata-se de um género de fungos Ascomycota, que evoluiu exclusivamente associado a um género de árvores, os Nothofagus. Isto deve-se ao facto de as espécies de Cyttaria serem parasitas destas árvores, a tal ponto que só estarão presentes onde se encontrar a sua árvore hospedeira.

As espécies de Cyttaria formam cogumelos do tipo apotélico estromático, ou seja, formam esporomas em forma de taça embebidos numa matriz. Todas elas frutificam principalmente na primavera. Dentro do grupo das Cyttaria, encontramos muitas que geram tumores nas árvores que parasitam. Este tumor é gerado pela própria árvore, que, na sua tentativa de se defender, começa a libertar hormonas que desencadeiam o crescimento, tentando aprisionar o fungo.
A visão mais típica é a de encontrar os tumores, também chamados de galhas, frutificados na primavera. Existem 11 espécies dentro deste género, das quais apenas uma não gera esses tumores, que é a Cyttaria exigua.

Cyttarias comestíveis

Dentro deste grupo de fungos, temos alguns exemplares comestíveis, entre os mais conhecidos temos o «llao-llao» (Cyttaria darwinii) e o «pão-de-índio» (Cyttaria harioti). São bastante fáceis de reconhecer entre si: enquanto o llao-llao apresenta uma cor tipicamente alaranjada, o pan de indio é esbranquiçado.

Cyttaria darwinii (NaturaLista)

Cyttaria harioti (https://ar.pinterest.com/pin/331014641336864780/)

Parasita os troncos e galhos dos Nothofagus

Talvez o mais interessante seja que, como mencionamos anteriormente, todas as Cyttaria estão restritas a locais onde Nothofagus está presente, que, para sorte delas, não são poucos. As espécies de Nothofagus formam as florestas mais amplamente distribuídas no hemisfério sul, indo de 30º a cerca de 50º de latitude sul, tanto na América como na Oceania.

Distribuição do género Nothofagus no hemisfério sul. Retirado de Manos (1997).
Mais de uma espécie de Nothofagus pode ser atacada pela mesma espécie de Cyttaria, enquanto a mesma espécie de Nothofagus pode ser parasitada por mais de uma espécie de Cyttaria. Foi realizada uma reconstrução co-filogenética de ambos os grupos com estimativas do tempo de origem das Cyttaria há cerca de 148 a 112 milhões de anos, ou seja, este grupo de fungos surgiu antes da abertura do oceano Atlântico sul, deixando populações completamente isoladas entre si, dando origem a diferentes espécies.
Autor Gonzalo Romano

Deixamos-vos com um vídeo curioso que mostra a colheita destes cogumelos curiosos: